Desigualdade no desenvolvimento das UTIs no Brasil: Falta de equipamentos e improvisação em hospitais de menor porte

A distribuição e a qualidade das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) pelo território brasileiro refletem a desigualdade de desenvolvimento entre as regiões do país. Para o arquiteto Siegbert Zanettini, diretor-geral da Zanettini Arquitetura, que há 60 anos projeta equipamentos de saúde, faltam UTIs e a improvisação é a tônica na maioria dos hospitais. Na outra ponta, instituições de alto padrão investem em tecnologias como a robótica e o laser. São recursos que auxiliam no tratamento, evitando o encaminhamento ao centro cirúrgico. “Independentemente do porte, não tem porque o hospital não ser dotado de bons equipamentos, que aliviam o tratamento.

A desigualdade de desenvolvimento entre as regiões do Brasil é refletida na distribuição e qualidade das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Segundo o arquiteto Siegbert Zanettini, diretor-geral da Zanettini Arquitetura, que projeta equipamentos de saúde há 60 anos, há falta de UTIs e improvisação é comum em muitos hospitais. Por outro lado, instituições de alto padrão investem em tecnologias avançadas, como robótica e laser, para auxiliar no tratamento e evitar encaminhamentos para o centro cirúrgico. Ele afirma que, independentemente do porte, todos os hospitais deveriam ser equipados com bons equipamentos para melhorar o tratamento dos pacientes.

Na década de 1990, Zanettini visitou o Boston Children’s Hospital nos EUA e ficou impressionado ao ver crianças internadas brincando alegremente com cães. Ele percebeu que essa abordagem liberal não era apenas agradável, mas também contribuía para a recuperação dos pacientes. Desde então, ele tem incluído esse tipo de procedimento em hospitais que projeta no Brasil, como o Hospital e Maternidade São Luiz – Anália Franco e o átrio do Hospital Albert Einstein-Morumbi. Ele acredita que a inclusão de animais de estimação e outras formas de terapia não-tradicionais pode melhorar a experiência do paciente e ajudar na sua recuperação.

A falta de estrutura adequada nas UTIs dos hospitais distantes dos grandes centros econômicos do Brasil

Em sua carreira, o arquiteto Siegbert Zanettini identificou graves problemas conceituais na arquitetura das UTIs de muitos dos quase seis mil hospitais públicos e privados existentes no Brasil. Ele afirma que esses problemas incluem dimensões inadequadas em relação ao porte da instituição, localização equivocada no zoneamento hospitalar, improvisações inadequadas, limitações de espaço, falta ou inadequação de equipamentos essenciais e falta de área exclusiva para ambulâncias.

Independentemente do porte, não tem porque o hospital não ser dotado de bons equipamentos, que aliviam o tratamento

Siegbert Zanettini

De acordo com o arquiteto Siegbert Zanettini, a localização da UTI é crucial e deve estar próxima aos centros cirúrgico e obstétrico para garantir eficiência no fluxo de pacientes. Ele afirma que se a UTI for implantada em um local inadequado, isso pode aumentar a distância e o tempo de deslocamento, colocando em risco a segurança do paciente. Além disso, ele destaca que devido a sua finalidade recuperativa, a UTI não deve ter a mesma porta de entrada do pronto-socorro (PS), onde é feito o atendimento inicial. Se o paciente é encaminhado da UTI para cirurgia, ele será preparado em uma sala específica contígua ao centro cirúrgico.

Segundo o arquiteto Zanettini, há uma falta de estrutura adequada em hospitais distantes dos grandes centros econômicos do Brasil. Ele afirma que muitas vezes, esses hospitais improvisam UTIs, separando apenas um canto com leitos separados por cortinas e sem fornecer os equipamentos necessários para o atendimento de saúde. Ele destaca que esses locais frequentemente não possuem rede de oxigênio e monitores cardíacos. Ele acredita que, em hospitais públicos, não há necessidade de luxo, mas toda instituição de saúde deve ser construída a partir de um projeto completo e de acordo com as normas da RDC 50, um documento técnico da Anvisa.

As instalações prediais das UTIs são mais complexas devido às suas necessidades específicas em sistemas hidráulicos, elétricos e de fornecimento de gases medicinais. Uma dessas necessidades é a de uma central de oxigênio, que é alimentada por caminhões de fornecedores e distribuída internamente por meio de uma rede de tubulação e acessórios que controlam o fluxo, pressão, temperatura e segurança. Segundo o arquiteto, em Manaus, no início de 2021, muitos hospitais não possuem essas centrais de acumulação e redes de gases, incluindo o oxigênio, e acabam usando cilindros padrão ao lado de cada leito, quando disponíveis.

Levar o sol, o vento e a possibilidade de percepção do entorno para um local de atendimento ao paciente é fantástico, auxilia muito na recuperação. Todos os meus hospitais têm uma preocupação ambiental muito forte

Siegbert Zanettini

Para ilustrar a complexidade das instalações prediais das UTIs, Zanettini menciona um projeto de reforma que ele mesmo realizou no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, localizado próximo ao parque Ibirapuera (SP). Segundo ele, as tubulações existentes estavam em condições precárias e, por estarem instaladas dentro do concreto dos pilares do térreo, sem acesso, era impossível realizar manutenções dos sistemas. A solução encontrada foi deixar o que já existia dentro dos pilares e criar shafts verticais visitáveis, como é feito em projetos hospitalares.

O projeto de reforma no Hospital Professor Edmundo Vasconcelos incluiu a construção de uma nova área, a UTI infantil, equipada com iluminação e ventilação natural. Antigamente, era comum que as unidades de terapia intensiva fossem projetadas com vedações completas e localizadas até mesmo no subsolo do edifício, com a crença de que isso preservaria o ambiente de vírus e bactérias. No entanto, segundo Zanettini, “levar o sol, o vento e a possibilidade de percepção do entorno para um local de atendimento ao paciente é fantástico e ajuda muito na recuperação.” Ele destaca ainda que todos os seus projetos hospitalares possuem uma preocupação ambiental muito forte, seguindo o conceito de arquitetura sustentável.

O desenho das UTIs é estrategicamente planejado para organizar a dinâmica dos procedimentos de tratamento dos pacientes. A área central é reservada para o posto de enfermagem, onde estão concentradas as atividades médicas, de enfermagem e auxiliares. Conectado ao posto, encontra-se a área de suporte, responsável por receber e preparar os insumos vindos de outros setores do hospital, como farmácia e laboratórios. Nessa área também são separados e destinados os resíduos.

Há salas específicas para materiais e produtos de limpeza e desinfecção, além de uma sala para guardar todo o instrumental, vestimenta e equipamentos de proteção individual (EPIs) dos profissionais da unidade. Ao redor do ambiente, encontram-se as baias, que variam desde suítes confortáveis em hospitais privados de alto padrão até unidades coletivas sem qualquer divisão de privacidade. Fora da UTI, mas integradas a ela, encontram-se áreas para estacionamento de macas e espaços apropriados para recepção de familiares, onde são informados sobre o quadro do paciente.

De acordo com o arquiteto Zanettini, as cores dos revestimentos de piso e parede das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) são escolhidas com base no estudo cromático adotado para todo o hospital. Ele afirma que é importante escolher materiais de alta resistência e com bom desempenho para garantir a assepsia do ambiente. Ele prefere o uso de granito devido à sua alta resistência, vida útil e facilidade de limpeza, mas também recomenda o uso de vinílicos e porcelanatos, que possuem juntas quase imperceptíveis e não possuem diferença de cota.

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